quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Escolhendo em Qual País Morar




Hoje venho dividir com vocês, o nosso processo de pesquisa para escolher um lugar para morar. Uma das minhas características mais fortes sempre foi impulsividade. Sempre "me joguei" nas experiências e situações que eu almejei na vida. Hoje em dia, por ter uma maravilhosa forcinha exterior ao meu lado chamada Rafael, eu venho aprendendo o quanto é importante planejar e dessa forma tenho conseguido manter minha impulsividade em uma posição saudável entre o 8 e 80. 

Para planejar essa viagem procurei pesquisar e ler bastante sobre os países candidatos a nossa próxima morada. Para fazer a escolha não  levamos em conta somente nossa vontade, consideramos também os locais que mais colaborariam com as nossas condições. Por sorte, eu e o Rafael temos cidadania européia. Eu sou filha de português e ele é neto. Isso facilita bastante a vida dependendo do lugar que for escolhido. A dupla cidadania torna mais fácil os  processos de vistos para países fora da União Européia como: Estados Unidos e Canadá, por exemplo. 

Para entrar nos Estados Unidos não precisamos de visto, apenas apresentamos uma autorização chamada  ESTA – Electronic System for Travel Authorization e pronto! Podemos trabalhar legalmente  em qualquer país da Europa, abrir empresa e conta bancária fica mais simples, passamos direto pela imigração, a fila para quem tem passaporte europeu anda muito mais rápido,escapamos de grandes e chatos questionamentos em aeroportos, podemos circular livremente pela Europa entre outros benefícios. Ainda com essas vantagens, não descartamos ir para países fora da União Européia.  Incluímos na lista países onde o inglês é a língua oficial ou pelo menos umas das línguas oficiais.  Então, apresentamos aqui as nossas opções: Austrália, Canadá, Estados Unidos, Irlanda e Inglaterra. Perfeito! Saímos do zero! 

Mas por onde começar? Bom, eu primeiro procurei saber qual era a documentação exigida por cada país, cada um tem suas leis, regulamentações e esse fator pode fazer toda a diferença no quesito grana, money, bufunfa! Quanto maior o número de exigências, maior será o gasto com vistos, vacinas, seguro saúde e outras possíveis regras para entrada. Sendo assim,  estipulamos quais seriam os gastos imediatos para o início da nossa jornada em cada um desses países. Consideramos alguns ítens como gastos pontuais: visto de entrada, visto de estudante e passagem aérea. Mais para frente virão os gastos que envolvem a mudança de fato; isso já inclui valor de aluguel, luz, água, supermercado, transporte,entre outras coisas. É claro que é complicado prever o custo de vida em uma cidade desconhecida. 

Para fazer isso eu usei duas ferramentas que foram de extrema importância! A primeira delas: Pessoas. Sim! Nada melhor do que conversar com pessoas que vivenciam  o dia a dia de cada cidade para ter uma noção mais próxima da realidade. Aproveitei minha família e amigos espalhados pelo mundo para me ajudar nessa. Na internet também deu para encontrar inúmeros vídeos de brasileiros relatando suas experiências no exterior e muitos comentam sobre o custo de vida das cidades. É importante lembrar que esse cálculo depende muito do estilo de vida que cada pessoa pretende levar, por isso é difícil chegar a um número exato. Nesse ponto,  a segunda ferramenta me ajudou muito. O nome dela é Numbeo. Trata-se  de um site que ajuda você a prever gastos com aluguel, compras no supermercado, refeições em restaurantes, transporte entre outras coisas. Para fazer a estimativa, ele se baseia em algumas questões sobre seu estilo de vida.

É possível inclusive detalhar as quantidades do que você costuma comprar mensalmente: ítens de supermercado, corridas de táxi, uso de transporte público, compra de roupas, idas a bares e restaurantes, entre outros. Obviamente que como em qualquer plataforma colaborativa, existem possíveis imprecisões e erros entre os dados. Por essa razão depois da pesquisa, pedi para cada um dos conhecidos que tenho vivendo nesses locais analisarem as informações e assim concluímos que grande parte do que estava ali era compatível com a realidade. O Numbeo também oferece informações  sobre índice de violência, qualidade de vida, trânsito, poluição existente em cada cidade e levamos tudo isso em consideração na hora de pesar nossa escolha. 

As cinco opções de países oferecem melhor qualidade de vida e maior segurança comparadas ao Brasil.Eu confesso que minha escolha sempre pendeu fortemente para o Canadá. Quando eu vim embora deixei um pedacinho do meu coração ali, nunca me senti tão em casa como me sinto por lá. Mas ao mesmo tempo, a idéia de viver uma nova experiência em um lugar ainda desconhecido é bastante sedutora. Países como Austrália implicariam em gastos maiores com visto de entrada, seguro saúde, e burocracia para trabalhar legalmente. No Canadá e Estados Unidos não teríamos gastos com a entrada mas em compensação temos que estar vinculados a algum curso para termos o direito de trabalhar por algumas horas por semana. Resumindo, para quem está ganhando em real e possui cidadania européia, os destinos mais em conta estão mesmo na Europa. 

Continuaram na disputa então: Inglaterra e Irlanda. Ambos me fascinam exceto pelo clima. Mas como já foi dito no post anterior, a cada escolha, uma renúncia e ao que tudo indica teremos mesmo que renunciar ao clima abençoado que temos aqui. Mas e agora? Qual destino escolher? Sentamos juntos, colocamos na balança, fizemos as contas, quebramos nossos porquinhos e sim, foi constatado que fizemos grandes esforços! Mas os esforços em reais ainda apareceram timidamente perto de uma Londres gasta em Libras.  

Por tanto, o nome da nossa nova morada é DUBLIN! 

Aguardem cenas dos próximos capítulos! 










sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Porque Viver Longe da Pátria Amada


Descobrir o porquê  de uma decisão é fundamental. Claro que ao decorrer da experiência, os porquês podem mudar e isso é absolutamente natural. Então primeiro vamos aos porquês do meu namorado: Ele quer viver a experiência de morar no exterior, conviver com culturas diferentes,se especializar na área dele através de algum curso e aperfeiçoar o inglês. Nossos porquês são  bem diferentes mas de alguma forma se encontraram e decidimos embarcar nessa aventura juntos. Os meus motivos são um pouco mais extensos e deixo muito claro aqui que não estou generalizando minhas opiniões. 

A verdade é que desde que eu voltei do Canadá , viver no Brasil, especialmente em São Paulo se tornou um desafio diário para mim. Não que antes de embarcar minha vida fosse perfeita, o que acontece é que ninguém sente falta do que não conhece e é por isso que a ignorância as vezes nos protege das frustrações. Pelo menos no meu caso, ela protegia. Eu cresci sabendo que morava em uma cidade violenta e que deveria estar sempre alerta as ameaças. Desde pequena quando minha família  chegava de carro a noite em casa, meu pai dava uma volta no quarteirão antes de abrir o portão da garagem. Isso para verificar se não tinha nada anormal na vizinhança ou alguma presença estranha perto de casa...era o tal alerta as ameaças. Essa rotina se mantém até os dias atuais e é tão natural quanto escovar os dentes pela manhã . É normal. NORMAL. O sentido dessa palavra mudou bastante para mim depois que eu voltei. As condições de vida do país  que eu nasci me fizeram acreditar que viver com medo é normal e antes de sair daqui eu nunca imaginei que a vida poderia ser diferente. Problemas o Brasil tem de monte e eles  existem não só aqui mas em qualquer lugar do mundo, é verdade. Mas para mim, o que mais pega é ter que conviver com a violência. Tenho a sensação de viver uma guerra civil permanente, saio de casa com medo de não voltar e quando as pessoas que eu amo saem, sou eu quem tem medo de que elas não voltem. Depois que eu experimentei a rotina de voltar para casa caminhando sozinha as três da manhã sentindo o vento frio bater no meu rosto sem me preocupar em olhar para trás freneticamente, eu me dei conta da tristeza da realidade que eu vivia aqui.

Além  disso, o dia a dia da maioria das pessoas em São Paulo, entende-se aqui como maioria aquelas pessoas que utilizam transporte público  e não  trabalham próximo as suas casas, é exaustivo... A mistura de um transporte superlotado com a falta de educação de grande parte da população quase sempre resulta em cenas de horror no metrô, onde as pessoas se empurram,se xingam e são  incapazes de compreender a lei que afirma que dois corpos não  ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo. Sim, eu já desci em estações que não  queria, porque a multidão te leva e você não tem escolha. Enquanto isso, uma infinidade de carros desfilam pelas ruas transportando somente uma ou duas pessoas,os motoristas desses mesmos carros frequentemente jogam papel de bala pela janela, passageiros do ônibus  superlotado jogam mais lixo pelos vidros,pedestres jogam bitucas de cigarro no chão.Mais tarde esse mesmo pedestre reclama do motorista do carro vazio que não  para na faixa para que ele atravesse e assim vamos vivendo nossos dias NORMAIS. 

Morar fora também é difícil , é verdade. São  perrengues diários...não existe realidade perfeita, não é?  O que existe são opções de escolha e renúncia . E eu pessoalmente renuncio ao clima maravilhoso da pátria amada, renuncio a maravilhosa gastronomia do nosso país  e dou lugar a liberdade de andar nas ruas sozinha sem medo de ser machucada, dou lugar a tirar um cochilo numa tarde embaixo de uma árvore  em praça pública como eu costumava fazer em Toronto. Dou lugar aos ensinamentos valiosos como aprender a não julgar, a  não  achar estranho quando alguém sai de casa de pijama porque não estava afim de se arrumar. Cada um vive sua vida a sua maneira e ninguém tem o direito de apontar para você na rua por conta disso. Hoje penso de forma diferente em relação a muitas coisas. Em Toronto eu também me dei conta do quão doentia é essa mentalidade de muitos homens  brasileiros que sentem-se no direito de encher a boca pra chamar uma mulher de gorda,magrela ou feia na balada, na rua, ou em qualquer lugar. Vivemos em uma sociedade que alimenta de forma desenfreada a adoração ao corpo perfeito e faz mulheres lindas à sua maneira sentirem-se antiquadas na própria pele. Eu aprendi a ser tolerante as diferenças, aprendi que é cena comum ver a faxineira e o diretor do banco comerem no mesmo restaurante e dividirem até  o mesmo acento no ônibus. Sim, o diretor do banco anda de ônibus  também. Ele não  acha que andar de ônibus  é coisa de pobre. O brasileiro acha isso, assim como acha bacana ostentar marcas nas suas roupas como se fosse uma árvore  de natal. 
Claro que nosso país também tem inúmeras   qualidades, senti falta de cada uma delas enquanto estive fora. As tais renúncias  doem, deixar o calor humano do nosso povo, deixar os amigos e família doí.  Mais uma vez, é uma questão de escolha. Com o que você é capaz de conviver? Qual o seu limite? O que realmente te faz feliz? 

No nosso relógio agora é hora de seguir em busca de algo a mais.Descobertas,experiências,perrengues,lições de vida,mais perrengues. Eu e meu namorado buscamos entendimento, crescimento pessoal, profissional, equilíbrio  emocional,liberdade e estamos construindo nossa coleção  de aprendizados. Esses nossos porquês em comum nos juntaram nessa caminhada.